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INTERCAMBIO PSICOANALÍTICO, 15 (2), 2024, pp 40 - 47
ISSN 2815-6994 (en linea) DOI: doi.org/10.60139/InterPsic/15.2.4
DE BORDES E INFINITOS.
ACERCA DEL FENÓMENO DE
DESPERSONALIZACIÓN.
.
DE LIMITES E INFINITOS.
SOBRE O FENÓMENO
DA DESPERSONALIZAÇÃO
ONEDGESANDINFINITIES:
REGARDINGTHEPHENOMENON
OFDEPERSONALIZATION
María Eugenia Fulvia Farrés
AEAPG
ORCID: 0009-0004-3557-3105
Correo electrónico: mariufarres@gmail.com
Fecha de recepción: 20-10-2024
Fecha de aceptación: 31-10-2024
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Fulvia Farrés M. E. (2024) DE BORDES E INFINITOS.
ACERCA DEL FENÓMENO DE DESPERSONALIZACIÓN.
Intercambio Psicoanalítico 15 (2), DOI:doi.org/10.60139/InterPsic/15.2.4
Creative Commons Reconocimiento 4.0 Internacional (CC By 4.0)
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“Há um conceito que é o corruptor e o desatinador dos outros. Não
falo do mal cujo limitado império é a ética, falo do innito”
(J. L. Borges, 1932)
Venho pensando no ilimitado. Sim, entendo que o innito é corruptor.
Não permite as diferenças. É liso, monótono. São os conns os que cons-
tituem a realidade. Também o corpo.
Outro desvelo: a angústia. Seus modos e formas: sinal, automática, au-
sente, hipocondríaca, lacerante, traumática, desorganizada.
Atravesso ambas preocupações e entendo. É isso do que todas falam.
Todas as mocinhas que estou recebendo no consultório tratam a ques-
tão do innito de seus corpos e angústias.
Compartilho com elas:
“Era o mais parecido a estar drogada, mas sem estar assim…Tudo é ir-
real, desdesenhado, como se lhe as luzes de um automóvel. Também
faltam as forças, o corpo não sustenta, ca diluído. É como se me olhara
desde fora, caindo…”
“É como estar em outro lado, não ser eu mesma, mas em esse mo-
mento…depois acaba. É estranho, me faz sentir rara”.
“Estava sentada no chão e parecia que diminuía meu tamanho, os leitos
se aproximavam, o quarto crescia, se fazia grande, depois pequeno ou-
tra vez…Como se fosse um lme”.
Apresentações cada vez mais habituais na clínica de hoje, os fenóme-
nos de despersonalização têm sido antigos protagonistas da psiquiatria
- não tanto da psicanálise clássica - que tendia a relacioná-los em forma
quase exclusiva com as psicoses. A clínica do grave os tinha como au-
tores principais e seu aparecimento sempre preanunciava diagnósticos
catastrócos.
Para a psiquiatria clássica “A despersonalização constitui um transtorno
de natureza subjetiva (…) se traduz por um sentimento de extranheza,
consecutivo à sensação de uma alteração profunda da pessoa” (Betta,
1981, pág. 256). Outros autores preferem falar de estranhamento, uma
vez que todos os sentidos funcionam com exatidão, “seja que a pertur-
bação se encontrar na visão, na audição ou no pensar vinculado com
os objetos, o resultado é sempre a falta de familiaridade”. É nesse lugar
que este autor (Federn) localiza a perturbação nas fronteiras do ego, de-
nidas como “o órgão sensorial para qualquer apercepção da realidade”
(Abínzano, 2019).
Fenómenos próximos ao desconhecimento do si mesmo, que fazen
questão da co-pertença do ego-corpo. É o mesmo Freud (1919) quem
refere como ominosa uma experiência de esse tipo, onde as coordena-
das têmporo -espaciais estão em xeque e o corpo se apresenta como
simples autómato que aglutina segmentos desmembrados.
DE LIMITES E INFINITOS.
SOBRE O FENÓMENO DA
DESPERSONALIZAÇÃO
María Eugenia Fulvia
Farrés1
1 Graduada em psicologia e
professora de nível médio e superior
em psicologia. Psicanalista de
adolescentes e adultos. Secretária
Cientíca da AEAPG. Membro
plenária e professora dos cursos
de pós-graduação da AEAPG - Un
Lam. Ex-terapeuta e coordenadora
da equipe de adolescentes do
Centro Rascovsky. Ex-coordenadora
da comissão organizadora do
Congresso Anual da AEAPG (2015-
2018). Autora de numerosos artigos
psicanalíticos. Compiladora de
“Psicanalistas do Século XXI. Dentro
e fora do consultório” (Ed. Ricardo
Vergara) Psicóloga da equipe da
Clínica Santa Rosa.
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Sustentarei que ego e o corpo, unidos indissoluvelmente desde os iní-
cios, são afetados mutuamente. Assim, a desestabilização das fronteiras
corporais questiona também a estabilidade do ego e vice-versa. Nada
signicativo acontecerá no organismo sem alterar a pulsão Freud, 1905)
… e toca ao Ego ser seu centauro.
Percebemos o ego como “a parte profunda da psique alterada pela in-
uência direta do mundo exterior, com a mediação de P-Cc: por assim
dizer, é uma continuação da diferenciação de superfícies (…) O corpo
próprio e sobretudo sua superfície é um sítio do qual podem partir em
forma simultânea as percepções internas e externas. É visto como um
objeto outro…” (Freud S. , 1923, pág. 27).
Nos momentos de despersonalização, a diferenciação vacila, perde niti-
dez. A imagem do corpo e suas arestas esbarram. Recorta-se em primei-
ro plano esse “objeto outrono qual o corpo pode transmutar-se. Esse
outrem do corpo o desnaturaliza. Alheio que se revela íntimo. Intimida-
de que se revela alheia. Duplicações e desdobramentos. Espelhos que
se multiplicam até o innito. Fenômenos que assustam, atemorizam,
angustiam.
A presenticação terrorica de um corpo antes próprio e hoje alheio,
duplicado, e até fragmentado questiona as coordenadas da cotidianei-
dade, do familiar. Avizora disposições psíquicas arcanos e superadas?
Em relação ao sinistro lemos em Freud (1919) “A presença de «duplos
em todas suas gradações e plasmações (…) a identicação com outra
pessoa até o ponto de enganar-se sobre o próprio eu ou localizar o eu
alheio no lugar do próprio quer dizer, duplicação, divisão, permuta-
ção do eu-; e, por último, o permanente retorno do que é igual” (Freud
S. , 1919, pág. 234) “… trata-se de um retrocesso a fases singulares da
história do desenvolvimento do sentimento do eu, de uma regressão a
épocas nas quais o eu ainda não tinha-se deslindado em forma neta do
mundo exterior, nem do Outro” (Freud, 1919,pág. 236).
Uma linha mais adiante localizará o duplo como modo de defender-se
do aniquilamento. E ainda como seu oposto: ominoso anunciador da
morte; poderíamos pensar esses momentos de vacilação nos quais os
ominosos duplos se fazem presentes, como quedas do velo narcisista
que recobre o corpo desmembrado do auto-erotismo?
Penso outra vez nos limites… os que faltam nos corpos frouxos de essas
moças. Aqueles que conduzem ao tempo no qual a fronteira corporal
ainda não tinha sido demarcada.
De esta maneira, pelo caminho da estranheza, da diluição dos limites
corporais e da duplicação nos aproximamos à pergunta pelo corpo da
espreita auto-erótica.
Entendo o auto-erotismo como uma colocação libidinal prévia à investi-
dura da imagem totalizadora oferecida pelo outro do espelho, onde as
parcialidades da pulsão se satisfazem anarquicamente na zona erógena
que as observou nascer.
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O auto-erotismo, fornece ao cachorro humano um prazer ‘’prêt-à-por-
ter’’, que no entanto se esgota, anárquico e entrópico, em mesmo
quando a satisfação alucinatória se demonstra insuciente. Então se
fará imprescindível o outro que, com seu sustento apalavrado e sua ter-
nura acariciante possa construir o corpo unicado do Narcisismo. Esse
que representará, daqui por diante, o ego.
No melhor dos casos, a anarquia do orgânico cará oculta para sem-
pre, detrás de esse corpo imaginariamente íntegro do reexo. Mas “a
ecácia continuada do auto-erotismo” (Freud S. ,1912/ 1995, pág. 227)
-entendida como vigência do princípio do prazer (ou ainda do além) em
desmedro do princípio da realidade - espreita perene e aterradora. “O
ominoso da vivência responde a condições muito mais simples (…) sem-
pre pode ser reconduzido ao reprimido familiar de antigo” (Freud S. ,
1919, pág. 246)
Assim o ego, cobertura e reverberação de “isso outro” que o corpo
é, se revela como ensamblamento (zusammengehende) (Freud S. ,
2011/1923, pág. 373) , passível tanto de juntas quanto de rompimentos,
de interrupções e armados alinhavados. Puxado, incoerente e escindido
desde a origem. Os fenómenos de despersonalização fazem questão da
capacidade de ligação do ego, sua função inibidora de descarga.
Conhecemos, a partir do Projeto, a importância da memória e da quali-
cação. A pura quantidade, o excesso quantitativo, é traumático para o
Aparelho incipiente. Sua função primária consistirá em tornar-se livre de
esses estímulos, descarregá-los. No entanto, isto interromperia a vida
biológica. Dali a importância de tolerar certas magnitudes para fazer
frente às necessidades do organismo (função secundária do Aparelho).
A principal tarefa do ego é inibir essa descarga a zero (que implicaria a
morte do organismo) para possibilitar a demora e com isso a comunica-
ção e a vida. A vivência de satisfação modela a forma na qual a quantida-
de se junta a outro do auxílio e a uma estrutura de sentido que facilitará
a descarga pelas vias mais adequadas e deverá conter no seu núcleo
a excitação mesma. Este montante energético deverá se recobrir com
representações que entrando em relacionamento com outras irão cons-
truindo cadeias associativas, demorando a descarga e tornando com-
plexo o Aparelho para suportar a obrigação vital, acorde com a função
secundária do psiquismo (tolerar quantidades).
Continuando com esta lógica entendemos a existência de um núcleo
atual em todo sintoma psiconeurótico ou psicótico (o “grão de areia”)
que persiste sem ligadura representacional. Portanto, se entende as-
sim a possibilidade de um modo de funcionamento atual-neurótico que
opera em paralelo com qualquer outro e presto para procurar descarga
a zero perante situações de alagamento quantitativo. De essa maneira
coexiste o modo secundário de funcionamento psíquico, dirigido pelo
princípio do prazer com o primário, tendente à descarga absoluta, então
fora de qualquer regulação da constância: além do princípio do prazer.
Mas regressemos ao ego e suas desventuras.
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Este ego, vassalo de multíplices amos, se declara incompetente perante
a pulsão impossível de deter, pertinaz, rebelde… desatinadora de cor-
pos, essa que a compulsão da repetição presentica de maneira sinistra,
além do princípio do prazer. “O que é ominoso da epilepsia, da loucura,
tem a mesma origem. O leigo assiste aqui à exteriorização de umas for-
ças que nem tinha suspeitado no seu próximo, mas do qual a moção se
sente capaz em algum remoto recanto de sua personalidade” (Freud S.
, 1919, pág. 243).
É a propósito de esta repetição ominosa que Freud fará menção a re-
gressões a épocas infantis, no qual o eu ainda não tinha sido deslindado
netamente do mundo exterior nem do Outro; situações que trazem a
presença próxima de aquilo que deveu car oculto? Insistência do des-
valimento inicial perante a enormidade do outro? Persistência do corpo
desmembrado do autoerotismo?
Levarei mais longe a metáfora entendendo o sinistro como a forma mais
concernida e ao mesmo tempo mais alheia da angústia. Estocada capaz
de desgarrar a consistência do eu-corporal e expor o desvalimento mais
obsceno. Paralizante e perturbadora como um sismo. Angústia automá-
tica que não permite o ego implementar alguma defesa, também não
construir o sintoma…
Em esses instantes (posso dizer instantes se o tempo se tem desquicia-
do?) Somente prima a descarga, a função primária do aparelho. Afeto
desqualicado, sem palavras com soma demais, privado de sentido, nar-
rativa ou história… além do princípio do prazer.
Fora de tempo e de lugar, como ilustram as vinhetas do início, os fenô-
menos de despersonalização parecem operar de acordo com o modelo
das neuroses atuais: afetação somática sem correlação simbólica. Ou
podemos pensar na insuciência dos recursos psíquicos de estas moças
para o trâmite de algum resto traumático? A percepção (núcleo do ego)
se desarticula e com ela os limites tanto da imagem corporal como da
realidade. Resulta impossível construir uma gestalt aperceptiva que re-
cuse a unidade ao organismo. Palavras que descrevem sem historizar.
Momentos onde tudo se fragmenta, se duplica, se congela, em m… se
desborda…
Limites que não cercam. Angústia desbordante y desbordada. Corpos
evanescentes, innitos… terra que não é do mítico, mas do místico.
“Não podemos dar razão da peculiaridade do psíquico mediante con-
tornos lineais como no desenho ou na pintura primitiva; melhor ainda,
mediante campos coloreados que se perdem uns nos outros, de acordo
como fazem os pintores modernos (…). É possível imaginar, também,
que certas práticas místicas possam conseguir desordenar os víncu-
los normais entre os diversos distritos anímicos, de maneira que, por
exemplo, a percepção alcance unir, no profundo do eu e do profundo
da psique, nexos que de outro modo lhe seriam inexequíveis. ” (Freud S.
, 1933/1993, pág. 74) assinala Freud na Conferência 31.
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Os limites que dividem as províncias psíquicas se descobrem móveis
nos momentos de comoção e a adolescência é um deles. A desorgani-
zação temporária do Aparelho própria de este trânsito vital, com seu
ardor pulsional, suas claudicações simbólicas e seus destempos carnais,
transportam rompimentos e separações na homeostase psíquica que
cada moça tramitará de acordo com seus recursos internos e as cções
propostas por cada época.
Ainda bem, que motiva esta apresentação clínica em particular?; por que
tão frequente?; trata-se de modos psicóticos de habitar a realidade?
Não parece. É preciso deixar esclarecido que se trata de adolescentes,
psiquismos frágeis, arrasados pela tormenta puberal e ainda em cons-
trução.
Depois de fazer uma análise do mencionado acima, aventurarei dizer
que, se bem na maioria das vinhetas apresentadas, as associações esti-
veram ausentes no que se refere ao episódio em si mesmo, não obser-
vei certeza, também não a operatória do mecanismo de recusa radical
(Verwerfung) de aspectos da realidade, nem a restituição posterior.
Pelo contrário, insiste em mim a pergunta pela “familiaridade” que se
perde em cada um dos relatos: com o corpo, com os espaços habitus,
com ou sem mesmo. De qué protege o episódio de despersonalização?;
Que freia?; Tem um relato a traduzir nesses momentos de estranha-
mento ou são somente descargas?
A estase libidinal, presenticada pela angústia automática e as crises de
pranto, manifestam a insistência passional e muda de Thanatos. Ten-
dência conservadora que desliga e afasta da possibilidade de tramitação
das magnitudes através de palavras.
No entanto, tenho a intuição que esses momentos de estranheza comu-
nicam “algo”, a aquela pessoa que saiba ler os mesmos. Irei pela pista
que me facilitou uma de minhas jovens protagonistas.
Tinha notado que cada tarde, ao chegar e ao despedir-se, me abraça-
va forte, muito forte. Quando passaram os afogamentos começaram os
momentos de estranheza com o próprio corpo e a perda transitória das
coordenadas témporo -espaciais. A partir dali o pranto é uma catarata
que a emudece na sessão. Não pode falar, não quer falar, me diz. Trans-
correm uma, duas, três sessões nas quais tento descrever aquilo que
vejo, no entanto ela chora. Nomeio suas posições. Baptizo seus sons.
Acompasso o ritmo de sua respiração. E nada. Cada sessão é igual. Re-
petição compulsiva de um corpo que aparece, se afoga emudecido em
pranto e fecha sua presença com outro abraço mendicante de tradução?
Na sessão seguinte arrisco. Faço uma aposta de algo diferente. Ela se-
gue chorando, quase afogada entre as lágrimas. Esta vez lhe peço licença
para tocá-la. Assente com a cabeça e a abraço com rmeza e consistên-
cia. Ofereço-lhe apoio. O pranto é ainda mais irrefreável. Não tenta falar;
nem eu. Solta o peso sobre meu ombro. Afrouxa todo o corpo. Passam
os minutos e seu tempo conclui. Despedimo-nos com outro abraço até
a semana seguinte.
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Durante a semana me escreve. Quer dizer por escrito porque sabe que
não poderá expressar com palavras na sessão. Descreve um corpo que
se oferece, como se renunciasse para entregá-lo ao sacrifício, exercendo
sua vontade até o desmaio, literalmente. Necessita que alguém lhe ofe-
reça um “atalho”, mas não pode ser de sua família. Eles estão “acima
demais”.
”acima demais” fala do temor à consumação incestuosa representada
no encerramento endogámico? Os episódios de despersonalização a fa-
zem desaparecer da cena familiar? A fazem desacostumar?
Pouco a pouco está falando novamente. Chora menos e aceita que faça
questão sobre a quantidade de horas que passa no ginásio. Os momen-
tos de estranheza estão espaçando-se.
Hoje signico de outra maneira seus abraços como sinais de percepção,
restos do observado e do ouvido, expectantes de encontrar as represen-
tações nas palavras que permitam sua tradução à língua de Eros.
Sigo pensando no ilimitado. Quiçá esse seja o modo de combater esse
continuum desatinador que é innito: fazendo bordes e hendiduras que
rodeiem e limitem corpos, goces e realidades.
A modo de conclusão, sem pretensão concludente por certo, direi que
os fenômenos de despersonalização aparecem hoje com mais frequên-
cia na clínica com adolescentes. Manifestam-se como apresentações
com pobre conteúdo simbólico, a predomínio do modo atual – neuróti-
co. O empurrão puberal desbordante põe em questão os limites entre
instâncias psíquicas. Descarga direta no “órgão” reitor da percepção: o
ego. Assim se altera o ego corpo. A satisfação direta no corpo, além do
princípio do prazer, parece coexistir (neurose mista?, desgarro consti-
tutivo do ego?) com alguma ligeira cobertura representativa que con-
segue, no melhor dos casos, comunicar em ato aquilo que ca por fora
das palavras.
As intervenções analíticas, sempre caso por caso, se dirigem à reconstru-
ção da superfície corpo e dos limites do ego, assim como à possibilidade
de apalavrar os momentos de estranheza para dar curso ao montante
de excitação através de alguma simbolização possível.
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