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INTERCAMBIO PSICOANALÍTICO, 15 (2), 2024, pp 164 - 167
ISSN 2815-6994 (en linea) DOI: doi.org/10.60139/InterPsic/15.2.15
MORIR ANTES DEL SUICIDIO.
PREVENCIÓN EN LA
ADOLESCENCIA.
MORRER ANTES DO SUICÍDIO.
PREVENÇÃO NA ADOLESCÊNCIA.
DYING BEFORE SUICIDE.
PREVENTION IN ADOLESCENCE
Olinda Serrano de Dreifuss
Centro de Psicoterapia Psicoanalítica de Lima
ORCID: 0000-0001-6235-3627
Correo electrónico: olindaserranodedreifuss@gmail.com
Recibido: 15-10-2024
Aceptado: 24-10-2024
Para citar este artículo / Para citar este artigo / To reference this article
Serrano de Dreifuss O. (2024) MORIR ANTES DEL SUICIDIO.
PREVENCIÓN EN LA DOLESCENCIA.
Intercambio Psicoanalítico 15 (2), DOI: doi.org/10.60139/InterPsic/15.2.15
Creative Commons Reconocimiento 4.0 Internacional (CC By 4.0)
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Autor: Francisco Villar Cabeza
Ano 2002 - 256 páginas.
Editorial Herder.
Francisco Villar é Doutor em Psicologia, especialista em suicídio na infân-
cia e na adolescência, coordenador do Programa de Atenção à Conduta
Suicida do Menor, do Hospital Sant Joan de Déu de Barcelona. É também
Professor do Mestrado de Psiquiatria e Psicologia Infantil da Universida-
de Autônoma de Barcelona.
O autor apresenta sua obra desde um enfoque vital e preventivo: “Esse
é um livro sobre a vida.” Na sua obra, dene o suicídio na adolescên-
cia como uma tragédia para quem interrompe dessa forma sua vida,
bem como para a família e o entorno. A partir dessa situação, encon-
tramo-nos com reexões, elaborações e vinhetas de casos clínicos em
paralelo à proposta reiterada da prevenção -indispensável em termos
de saúde pública- nos diversos espaços nos que os adolescentes vivem
e se relacionam. “O objetivo é dar visibilidade -como oferecemos nes-
sa resenha- e oferecer ao leitor elementos de reexão, apontando para
isso os caminhos mais frequentes que percorre um adolescente até a
decisão de acabar com sua vida.” (p.12) Esse livro procura se alinhar às
expectativas da Organização Mundial da Saúde (2018) e a Organização
Panamericana da Saúde (2021) para estimular a participação comuni-
tária na prevenção do suicídio e elas se referem aos diversos âmbitos da
interação humana.
A obra começa estabelecendo atitudes de negação e resistência em re-
lação a situações de adolescentes nas quais se trivializa a nível familiar e
social uma situação ou problemática interna e externa que devém numa
conduta suicida. Diculdades de autoestima num adolescente, como se
sentir muito desvalorizado ou exigida pela família e escola, ou muito
sozinho, podem derivar na fantasia de que todos estariam melhor se ele
ou ela não estivesse mais lá. A tristeza e a dor psíquica profunda podem
se tornar intoleráveis. A família, por sua vez, pode enfrentar angústia,
culpa e uma sensação de estigma que impede enfrentar a situação de
forma sustentadora.
Nesse sentido, o autor propõe a existência dos seguintes mitos em re-
lação ao suicídio alinhados com a negação: quem fala a respeito não o
faz, se alguém resolve ir adiante nada e ninguém vai conseguir impe-
di-lo, a melhora após uma crise suicida é denitiva, o ato suicida é impul-
sivo e não pode ser prevenido, o ato suicida é próprio dos transtornos
mentais e apenas diz respeito aos psiquiatras e psicólogos.
MORRER ANTES DO SUICÍDIO.
PREVENÇÃO
NA ADOLESCÊNCIA.
Resenha realizada
por Olinda Serrano de
Dreifuss1
1 Psicóloga Clínica, Professora e
Coordenadora da área de Clínica
e Supervisão da Escola do CPPL,
Coordenadora do Departamento
Freud e membro do Board dos
Encontros Winnicott da América
Latina
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É importante considerar que a conduta suicida não aparece de forma
súbita, mas após um processo de crescente e intolerável mal-estar, des-
de a ideação, as ameaças, a planicação, os gestos suicidas, tentativas
de baixa letalidade ou aquelas que podem chegar à morte por suicí-
dio. Há circunstâncias nas quais pensar na morte é a única forma de
continuar vivendo, mas não deve ser confundido com uma solução. A
verbalização, gesto ou tentativa suicida pode ser um pedido de ajuda
que requer um outro que possa registrá-lo; para isso é fundamental que
haja um receptor que transmita compreensão e apoio, como uma base
segura onde a pessoa afetada por uma situação intolerável possa se
refugiar.
O autor da ênfase a que “a conduta suicida não é uma forma de chamar
a atenção, mas uma forma de pedir ajuda, ainda que se apresente como
ameaça e, portanto, deve ser tomada a sério.” (p. 56) Explorar uma pes-
soa pelas suas ideias de suicídio não aumenta seu risco de cometê-lo,
mas, pelo contrário, transmite preocupação e disponibilidade para um
espaço de verbalização.
Para prevenir a conduta suicida, Villar Cabeza propõe diversas teorias
que se referem a quatro elementos fundamentais a considera-los in-
tegradamente: reduzir a dor ou sofrimento psíquico, aumentar a espe-
rança de alívio e mudança, melhorar a conexão ou vinculação com ou-
tros se sentindo útil para alguém em algum projeto pessoal ao invés de
um fardo, e reduzir a capacidade de suicídio considerando com cuidado
os fatores de risco e oportunidade.
Para atingir essa prevenção, o autor propõe decididamente que temos
que recuperar os cenários essenciais, além da família, relativos à infân-
cia e adolescência: a escola e os meios de comunicação e de difusão de
cultura. Assim, ele analisa cada um desses espaços e suas possibilidades
e diculdades para implementar intervenções de prevenção.
São mostradas experiências e pesquisas nas quais, desde a escola, são
realizados treinamentos a professores e inclusive a alunos, para serem
cuidadores identicados. Inclui-se, por sua vez, o objetivo do cuidado ao
cuidador, no sentido de não sobrecarregar o professor com exigências
que não lhe dizem respeito.
É importante observar e promover o quão integrado esteja o adolescen-
te com outros e com alguma sensação de ser útil e valorizado. Os meios
de comunicação e a expressão cultural e artística podem ser conside-
rados a partir do temor de contágio até atitudes suicidas ou, por outro
lado, desde o “efeito Papageno” ou efeito protetor. A partir da tecnologia
e a internet uem diversos estímulos, informação, contatos, sugestões
e conteúdos tanto de risco como possíveis de fornecerem apoio. Diver-
sas vinhetas ilustram nessa obra situações críticas e de risco a partir de
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dinâmicas familiares, entre pares, de relações sentimentais e no âmbito
escolar.
Finalmente, nas palavras do autor:
Não podemos evitar a dor, mas sim aliviar o sofrimento e transmitir es-
perança. Quase mais importante até do que aquilo é favorecer que o
adolescente se sinta vinculado, sinta que faz parte, sinta que está aga-
rrado à vida com laços relacionais no máximo número de níveis de re-
lação. Porque estar agarrado à vida é incompatível com o desejo de aca-
bar com ela.(p. 236)
Assim, tanto desde uma visão preventiva geral e social, quanto especi-
camente clínica e psicoterapêutica, recomendamos a leitura deste livro
de Francisco Villar Cabeza, considerado por ele como “um trabalho de
reexão compartilhada”. Assim, foi por nós lido, apreciado e dividido em
detalhe no Grupo de Atualização do CPPL, conformado por Gladys Luy,
Viviana Peña, Margarita Rodríguez, Violeta Saavedra, Vivian Stowers e
Olinda Serrano de Dreifuss na coordenação.