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Esta entrevista foi realizada em 14 de outubro de 2023 no contexto do
XII Congresso da FLAPPSIP, que ocorreu em Santiago do Chile em outu-
bro de 2023. Marcelo Viñar, Doutor em Medicina e Psicanalista, nascido
em 1937 no Uruguai, possui uma vasta trajetória e foi um dos palestran-
tes principais do referido Congresso. Embora sua apresentação tenha
sido sobre a adolescência, optamos por conversar com ele sobre outra
etapa da vida.
A entrevista foi preparada de forma colaborativa pelos membros das
equipes de Idosos do Centro de Psicoterapia Psicanalítica de Lima (CPPL)
e do Grupo de Trabalho sobre o Envelhecimento do Departamento de
Psicanálise – de SEDES.
Jorge Gorriti com Lourdes Schutte pelo CPPL e Helena Albuquerque com
Vânia Paschotto por SEDES, participaram do diálogo com o entrevistado.
CPPL: Começamos agradecendo esta oportunidade de diálogo. Ambas
instituições têm uma linha de reexão sobre o idoso e coincidimos em
um tema que é recorrente em nossa clínica, nos referimos à aposenta-
doria, ao momento da aposentadoria. Podemos concebê-lo como um
acontecimento crítico no percurso psíquico de nossa vida?
Marcelo Viñar: Bem, poderia tomar 24 horas para dar uma resposta ade-
quada à profundidade da pergunta. Ninguém resolveu ainda o tema da
mortalidade, cada um tem sua história, às vezes explícita e outras implí-
citas, às vezes pertinente, às vezes impertinente. A vida é imprevisível, e
eu me pergunto como eu teria me posicionado diante do horizonte da
morte aos 10 anos, aos 20, aos 50 ou aos 100. Para abrir o tema desta
conversa, vou evocar duas memórias.
Uma está relacionada ao meu pai, que viveu até os oitenta e tantos anos.
Quando ele tinha 70 anos, uma amiga lhe fez a mesma pergunta sobre
como ele se sentia com a aposentadoria. Ele respondeu mais ou menos
o seguinte: que sentia que seus 70 anos eram um momento glorioso,
porque ele era um milionário em experiências, um milionário em me-
mórias e evocações. Ou seja, ele transformou a pergunta que o polari-
zava ou que o colocava em um lugar de dor em um lugar de celebração,
de festa.
COM MARCELO VIÑAR:
“ “VIVER A VIDA VALE A PENA...
MAS... SERIA TERRÍVEL
SE O HOMEM FOSSE IMORTAL”
Jorge Gorriti1
Lourdes Schutte2
1 Jorge Gorriti é licenciado em Economia
pela Pontifícia Universidade Católica
do Peru, psicoterapeuta psicanalítico
formado pelo CPPL; membro do Grupo
de Idosos do CPPL. Participante em duas
pesquisas coletivas do Departamento de
Pesquisa e Publicações do CPPL: “Práticas
clínicas durante a pandemia” em 2021
e “O cuidado do analista em formação:
a experiência da tutoria em grupo para
formandos em psicoterapia psicanalítica”
em 2022. Autor dos seguintes artigos:
O pensamento paradoxal de Winnicott,
publicado na Revista Intercambio
Psicoanalítico da FLAPPSIP, Número 1,
Volume XI - 2021; e Da morte de Deus à
morte do Homem. O Sujeito: constituído
ou constituinte?, publicado no Número
6 da Revista de Filosoa Metanoia da
Universidade Antonio Ruiz de Montoya,
em 2021.
2 Lourdes Schutte é licenciada em
Recursos Humanos. Terapeuta
Psicanalítica do CPPL. Membro do
Departamento Freud e integrante do
Grupo de Idosos do CPPL. Participante
na pesquisa coletiva do Departamento de
Pesquisa e Publicações do CPPL: “Práticas
clínicas durante a pandemia”, 2021.