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DEL JUEGO A WINNICOTT:
UNA REVOLUCIÓN SILENCIOSA
DO JOGO A WINNICOTT:
UMA REVOLUÇÃO SILENCIOSA
FROM GAME TO WINNICOTT:
A QUIET REVOLUTION
María Eugenia Centeleghe
Asociación Argentina de Psiquiatría y Psicología de la Infancia y la
Adolescencia
Correo Electrónico: mecenteleghe@gmail.com
ORCID: 0009-0001-6905-0335
Para citar este artículo / Para citar este artigo / To reference this article
Centeleghe M. E. (2023) DEL JUEGO A WINNICOTT: UNA REVOLUCIÓN SILENCIOSA
Intercambio Psicoanalítico 14 (2), DOI: doi.org/10.60139/InterPsic/14.2. 15/
Creative Commons Reconocimiento 4.0 Internacional (CC By 4.0)
INTERCAMBIO PSICOANALÍTICO, 14 (2), 2023, pp 153 - 156
ISSN 2815-6994 (en linea) DOI: doi.org/10.60139/InterPsic/14.2. 15/
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Autor: Alfredo Tagle
2016 - 224 Páginas
Lugar editorial
Buenos Aires
Resenha realizada por: María Eugenia Centeleghe
Alfredo Tagle, neste livro tenta fazer uma articulação dos conceitos funda-
mentais da obra winnicottiana, os quais considera muito pertinentes para
pensar os desaos atuais da clínica. Destaca-se a originalidade de Winnicott,
no modo de conceituar o jogo, onde se sobrepõem duas zonas de jogo; A
do paciente e a do analista. Assim também, o papel do analista com uma
atitude aberta, capaz de sobreviver ao ódio e à agressão na transferência. O
desenvolvimento do livro, consta de oito capítulos, nos quais se mergulhará
no universo winnicottiano, fazendo um percurso pelos seguintes conceitos:
jogo, agressão, realidade, em sua dupla versão como vivência e como ex-
terioridade, o papel do pai, a ilusão, a experiência emocional e a criativida-
de. Ao longo do livro encontraremos fragmentos de prontuários clínicos do
próprio autor.
No capítulo 1, destaca-se a importância do jogo na clínica com crianças,
e as tentativas de conceituação ao longo da história da psicanálise. Partindo
de Freud, com o caso Juanito e a aproximação à idéia de um processamento
psíquico transformador das moções pulsionais no jogo, logo com Melanie
Klein, retoma a idéia de que as crianças através do jogo, dão forma às fan-
tasias inconscientes, projetando no exterior as ansiedades persecutórias e
perigosas, permitindo seu sujeitamento. Finalmente, retoma Winnicott, as-
sinalando que é a partir do seu desenvolvimento que o jogo adquire real
relevância na clínica com crianças, já que tenta compreender a verdade por
trás do fenômeno da ilusão que mantém a criança no jogo, algo que não
pertence ao mundo interno, nem ao exterior, mas é uma zona intermédia
“estado de ilusão”. Em relação à ilusão, apresenta as condições para que
se origine, e é a disponibilidade do adulto para sustentar o cenário lúdico.
Sobre a ilusão Tagle postula:
Uma vez estabelecida a diferenciação eu-não-eu, o estado de ilusão no qual
ocorre o jogo criativo torna-se possível a partir, como dizíamos de um eu
que se dissocia. Por um lado, mantém a diferenciação alcançada entre o
mundo subjetivo e a realidade e, por outro, permite-se uma regressão a mo-
dalidades mais primitivas de relação com o mundo. Winnicott postula uma
fusão entre objeto subjetivo e o oferecido pelo mundo externo, percebido
de forma objetiva, e precisamente neste Você costura a ilusão, no estado
que é alcançado por não exigir diferenciação e dar origem à crença de que o
objeto encontrado-criado é o mesmo da fantasia. (Tagle, 2016, p.34)
DO JOGO A WINNICOTT:
UMA REVOLUÇÃO
SILENCIOSA
Eugenia Centeleghe1
1María Eugenia Centeleghe.
Licenciada em Psicóloga UNLP. Pós-
graduação “Formação em clínica
psicoanalítica da infância e
adolescência” ASAPPIA. Membro
aderente ASAPPIA.
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Neste capítulo também menciona o papel do analista e as resistências que
pode produzir o aceitar ser partener no jogo do paciente, tolerar a trans-
ferência, ajudar a conter e processar as emoções que se situam nele. Por
último, faz uma referência às patologias e à capacidade de brincar, salien-
tando a possibilidade do eu para poder dissociar-se, afastar-se parcialmente
do sentido de realidade e através de fragmentos clínicos, nos adentra nas
complexidades que nós analistas devemos enfrentar frente às diversas
apresentações atuais.
No Capítulo 2, “A agressão” toma a denição de agressão de Winni-
cott, que enfatiza, que o ódio e a destrutividade não são negativos em si
mesmos, mas são experiências fundantes do desenvolvimento emocional.
O lugar onde esta agressão ocorre, e como o outro decodique a mesma,
resultará em sua conotação negativa ou positiva. Retoma a idéia de winnico-
ttiana que a origem da agressão é a motilidade, como ação surgida desde o
biológico na incipiente emergência do psíquico e faz uma descrição exausti-
va de como pode dar-se esta origem. Assume relevância o conceito de mãe
suciente boa, aquela não só capaz de satisfazer as necessidades do bebê,
mas aquela que também dá lugar ao que o eu da criança se instale sendo
protagonista de sua experiência. Finalmente, menciona que esta experiên-
cia de satisfação pode ter variáveis, e que existem pelo menos três padrões
que podem ser úteis para a clínica. O primeiro em que há integração do eu,
sinônimo de saúde e bem-estar. O segundo e terceiro são patológicos, seja
porque o sujeito se sente real quando é destrutivo e cruel ou porque é inca-
paz de armar um eu em contraposição do meio (falso self).
A destruição está em todo processo criativo, não há criação sem destruição
(...). Além disso, todo trabalho de simbolização genuíno, como criação pes-
soal e única, implica destruição. (Tagle, 2016, p. 70)
Nos capítulos 3 e 4 o autor diferencia o conceito de realidade, em suas duas
dimensões como vivência e como experiência, a primeira como aquela cria-
da de maneira onipotente pelo bebê a partir da ilusão, capacidade que se
constitui no interior do vínculo. A segunda relacionada aquilo que se encon-
tra por fora do controle onipotente do sujeito. Esta diferenciação que re-
toma de Winnicott, articula-a com os conceitos de objeto subjetivo, objeto
transicional e fenômeno transicional, que resultam de suma importância
no processo que deve fazer a criança para ir denindo e delimitando essa
passagem do interior e do exterior, do interior e do exterior, da fantasia à
realidade.
No Capítulo 5, encontramos um desenvolvimento interessante da função
do Pai, descreve-o como o encarregado de ajudar a manejar a agressão
da criança no momento da autoarmação, propiciando a manifestação da
agressão, mas dentro de certo enquadramento. Propiciando a integração
da agressão dentro da vida anímica da criança, condição fundamental para
passar do plano da fantasia à realidade exterior.
No Capítulo 6, realiza um percurso pelos diferentes signicados da palavra
ilusão, enfatizando a conotação que lhe dá Freud e Winnicott. Em primeiro
lugar, como aquela onde se localiza o desejo e por isso o inconsciente, e em
segundo lugar a ilusão como potencial criativo, transformador e elaborativo.
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No Capítulo 7, o autor aborda a Experiência emocional, para isso se refere a
uns dos primeiros artigos de Winnicott, Desenvolvimento Emocional Primiti-
vo (1945). A respeito Tagle (2016):
As experiências emocionais, motor do desenvolvimento, serão o correlato
da elaboração imaginativa das funções corporais, conseguida no intercâm-
bio com a mãe. As emoções, por sua vez, como desprendimento do somáti-
co, constituem-se em “interfase” entre o corpo e o psiquismo, são a primeira
fundição de uma interminável série de transformações. As emoções são
também o nexo que nos une com o pré-individual, uma incomensurável es-
tranha que nos habita, ao mais distante, estranho e imaterial nas entranhas
de nosso próprio corpo. (Tagle, 2016, p. 173)
O desenvolvimento emocional como paradigma supõe um postulado pre-
liminar de que: a partir da elaboração imaginativa das emoções, e demais
emergentes corporais, se vai construindo o psiquismo como uma estrutura
intermediária entre o organismo e o entorno. (Tagle, 2016, p. 174)
No oitavo e último capítulo, Alfredo Tagle, retoma a importância da criativi-
dade no sujeito. No oitavo e último capítulo, Alfredo Tagle, retoma a impor-
tância da criatividade no assunto. O bebê desde os primeiros tempos no
vínculo com a mãe, vai tornado de signicado o mundo interior e exterior,
depois através do jogo, posteriormente através da arte, dando lugar à pro-
dução do tecido psíquico. Agora, quando o sujeito não consegue simbolizar
a realidade, isso pode levar ao aparecimento de sintomas. Assim, o espaço
psicanalítico e as intervenções do analista devem ser um lugar de criação,
onde só há repetição.
Comentários
Um livro muito interessante, fornece uma leitura conceitual, exaustiva e
atual dos desenvolvimentos teóricos de Donald Winnicott. Cabe destacar
que o desenvolvimento dos fragmentos dos casos clínicos, a meu critério
proporciona ferramentas aos psicanalistas, para pensar nas apresentações
da clínica atual. É de destacar a relevância que dá ao trabalho com as famí-
lias, levando em consideração esse “entre” no qual tem lugar a constituição
psíquica. Oferece uma leitura, que para aqueles que estão comprometidos
com as infâncias e as adolescências, oferece um marco conceitual que trans-
cende as paredes do consultório, interpelando nossa prática. A agressão
como constitutiva do ser humano, e a importância desse outro adulto que
contenha e sustente, dentro de um marco de respeito e amor pelo semel-
hante, condição tão necessária no mundo contemporâneo.
Referências Bibliográcas
Tagle, A. (2016) Do jogo a Winnicott: uma revolução silenciosa. Lugar Editorial. Cidade
autônoma de Buenos Aires.
Winnicott, D. (1945[1979] Desenvolvimento Emocional Primitivo, em Escritos de Pediatria e
Psicanálise. Barcelona: Editora Laia.
INTERCAMBIO PSICOANALÍTICO, 14 (2), 2023, pp 153 - 156
ISSN 2815-6994 (en linea) DOI: doi.org/10.60139/InterPsic/14.2. 15/